Buscapé

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Ode ao Dia dos Namorados


A cena é linda, eu diria perfeita. 
O namorado pára o carro em uma rua tranquila, 
venda os olhos da namorada 
e coloca uma música que fala de amor.
De repente a rua é tomada por casais de namorados 
passeando de mãos dadas, sorrindo enamorados
entre beijos, abraços, flores e balões.
(Armação criativamente inventada, 
famoso flashmob dos dias de hoje.)
Os olhos outrora vendados não acreditam no que vêem.
Choram de emoção, pupila dilata, fala falta.
O clímax chega na forma de uma caixinha preta 
de veludo que delicadamente se abre, 
mostrando duas alianças de ouro.
- Quer se casar comigo?
(...)
- NÃO.
(...)
Não?!?
A cena é inesperada, eu diria imperfeita.
Imperfeita como a vida é, afinal. 
Plena de encontros e desencontros, 
amores correspondidos e doídos, 
porções inteiras de sim e não.
É com a recusa de um pedido do casamento 
em pleno 12 de junho que começa o filme 
"Odeio o Dia dos Namorados".
O nome é curioso. Chama atenção 
pelo forte antagonismo do verbo utilizado
em relação a uma data tão cheia de amor pra dar.
Aí você torce o nariz. Esvazia-se de toda 
e qualquer pretensão já prevendo 
uma tola comédia romântica cheia de clichês.
Lêdo engano.
"Odeio o Dia dos Namorados" é leve, 
engraçado, ficcional e também muito real.
A mulher que não aceitou se casar 
foi um dia a menina que botava fones de ouvido 
para não ouvir a briga dos pais.
A publicitária viciada em trabalho 
viveu um dia abstinência de amor
nas suas decepções de adolescente.
Um acidente de carro pára tudo, movimenta tudo, 
dá a ela a oportunidade de voltar no tempo.
Pausa providencial, Divina Providência 
dando uma explicação a tudo.
Depois de tanta "viagem", nasce o slogan 
do bombom Sonho de Valsa: "Alimente o seu amor".
Como ex-redatora publicitária, adorei. 
Era o slogan que eu gostaria de ter criado.
Como psicóloga, ouvinte frequente das trincas 
que muitas vezes esfarelam as relações afetivas, validei.
O amor - a despeito de todos os traumas, 
vazios e antagonismos - tem fome e sede, 
necessidade constante de cuidado e nutrição
para não correr risco de inanição.
Deve ser por isso que os restaurantes 
fazem fila no Dia dos Namorados.
Oficialmente os casais ficam ávidos 
de rua, lua, vinho, ninho, 
famintos que estão de amor.

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